sábado, 27 de dezembro de 2014

WILDMAN DOS SANTOS CESTARI



BRINCANTE

Pé pra cá
Mão pra diante
Um sorriso alargado
Como vôo rasante
Imerso na fantasia:

Da ilusão que se irradia
De se abanar da cara a melancolia
Da tinta do pó do feroz dia

Porque se quer brincante

Oh, Bumba!

Maior alegria

-universo-

Poesia.


O MEU FALAR NORDESTINO

Meu falar nada grã-fino
Tampouco simpatizante,
Pra uns; pra outros, elegante.
Com isto não me azucrino
Nem me faço de arrogante.
Meu falar bom –puro hino,
De alguém que fala cortante
Engolindo consoante.
Um que de falar sorrindo
Como quem fala cantante
Do destemido destino
De ser alma retirante.
Povo que, de sol a pino,
Faz-se de forte o bastante
Por ser nato nordestino:
Que vida árdua, inconstante!


CANTIGA DE RETIRANTE

Não se pode ser feliz
Tendo tristeza no olhar;
Se, aqui, bem nenhum me quis,
Já não posso mais tardar!

Só a ausência é companheira
De quem deixa seu lugar;
O sonho, uma vida inteira,
Noutros campos cultivar.

Lá, para além dos monteiros,
É que vejo o sol brilhar;
Minha flor noutros canteiros,
Prenda minha, hei de achar!


QUINTILHA

Por pensar no meu amor,
De tão cálida e cheia,
Tão má se fez minha dor:
Brava onda que mareia
A minguar o meu fervor.


PESCADORES

Seguem lua que vagueia,
Bravas almas, pescadores;
Da rasante à maré cheia
Por pensar nos seus amores.

Sonham suas as sereias
Sob encanto de licores;
Jogam ao mar suas teias
Por querê-las, pescadores.

Logo a razão lhes golpeia
Borbulhada por temores:
- Foi-lhes sempre a vida alheia
Aos seus sonhos, pescadores?


CANÇÃO DOS QUE JÁ SE FORAM
À Serra da Mantiqueira

Quando pouso o olhar sobre o azul da imensa serra...
Ouço a canção vinda pelo caminho,
O caminho que é de toda a gente
Num tiririm sonoro de sininhos...
Vindas pelas fileiras dos caminhos,
Turificadas sombras dos que já se foram...
Deixam pegadas em desalinhos
Como marcas de lágrimas de antigos choros...
A cantilena monótona se espargindo
Num ritmado coro ressoado pelo vento,
Vem, em ondas telepáticas, emitindo:
-O sonho é uma nevoa assoprada pelo tempo
Que a tudo tão mansamente degenera,
Mas a morte é um não-tempo, é um espaço
Para a esperança cansada de espera
Para a esperança cansada de espera
Para a esperança cansada de espera...
Quando pouso o olhar sobre o azul da imensa serra...
Tudo, num instante, finalmente se reverbera
Que a vida é um sonho que se desfaz em névoa
E a morte é um sopro para o fim angustiante de
Dilacerantes quimeras.




Baiano de Salvador e criado no interior da Bahia (Jaguaquara), graduou-se em Letras com especialização em Literatura. Ativo personagem da poesia brasileira, atualmente radicado no Vale do Paraíba, estreou em livro em 2012, com “Efígies”. Os poemas acima fazem parte de ‘Belão Belão Blãblão – Canções e Poemas (Nomadismo Poético)’, publicado em 2013 pela Virtual Books. Membro da União Brasileira de Escritores (UBE) e União Brasileira de Trovadores (UBT).

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