terça-feira, 21 de setembro de 2010

CLEBERTON SANTOS


POÉTICA DO CARURU
para Luísa Mahin Nascimento

No chão comemos o caruru dos 7 poetas
Entre versos e tachos e sinestesias e bacias

Os poetas revivem a festa das matas africanas
De seus lábios ecoam os ritmos ancestrais

Rodam no terreiro cavalos da poesia
A palavra sibila no atabaque do malungo

Todos cantam na força da magia
7 poetas comem caruru recitando euforias

Do livro inédito “Cantares de Roda”.
Feira de Santana, 19-09-2010.



ROSEIRAL

para Rosana Maria Carneiro Rios

Teu corpo é roseiral que exala fogo,
lambendo e devorando meus desejos.
Teus róseos espinhos são mil lampejos
que rasgam meus gritos de desafogo.

Teu roseiral, campo de mil prazeres,
vermelha fonte de insaciável gozo,
arde sobre meu peito. E fogoso
canto salmos de orgia, por trazeres

para meus braços, ó lúdica ninfa,
a rosa mais rosa, do roseiral
secreto que trazias dentro de ti.

Do livro inédito “Aromas de Fêmea”.


LUZ DA PAIXÃO

Amanhecer em teus braços,
pleno do gozo de uma noite
escura, sentir meu corpo
claro sempre à tua procura.

Amanhecer em teus braços,
insaciado dos teus olhos,
buscar novamente teus
abraços, luz da paixão.

Amanhecer em teus braços,
recitando mil suspiros,
canções de ternura viva
em formas várias de amar.

Do livro inédito “Aromas de Fêmea”.


CANÇÃO DA AMIGA

(ao som de flauta doce)

Em teus lábios, amiga,
repousam sonhos disfarçados de euforia.

Em teus olhos, amiga,
naufragam poemas rupestres de dores oníricas.

Em teu corpo, amiga,
florescem lírios roxos em mar de volúpia.

Do livro inédito “Aromas de Fêmea”.


BESTIÁRIO INÚTIL


Primeira paisagem

Um calango espreita a vida

no mormaço de uma tarde estreita.

Sol a castigar o dorso de uma catenga

viúva silenciosa de outro calango morto.

Esticado em terra seca e astrosa

poeta repousa ossos e remorsos.


Segunda paisagem

De cima de um muro

um calango vigia o mundo.

Imperioso e astuto e lépido

contempla a paisagem (surda)

ausculta os pensamentos de um cético.

De cima de um muro

um calango vigia o cego.

Viril e verossímil e audaz

afronta a morte que ronda

seu dorso listrado de couro tenaz.


Concerto para ninar calangos

Silêncio tecido de dor e violinos

crava em meu peito

concerto estapafúrdio

para ninar calangos opalinos.



Sergipano de Propriá, Cléberton é poeta, crítico literário e Professor da Universidade Federal de Feira de Santana (BA). Detentor de inúmeros prêmios nacionais de Literatura, publicou os livros Ópera Urbana e Lucidez Silenciosa -entre outros. Veicula o blog http://clebertonsantos.blogspot.com

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

VALDIR ALVARENGA


POEMA PARA IRENE

Meu mar
Meu céu
Minha montanha...
Dádiva dos deuses
A mim concedida
Para amar-te
e
Ser a sombra
Q te acompanha

***


Meu amor é vingança

É dança que envolve

Revólver que não atira

Mentira que brilha

É brilho sem luz.

A vingança é meu amor

Avança como onda

última do mar

Meu amor é vingança

Um amor sem amar.


***

AUSÊNCIA


Teu rosto que não vejo

é a morte de meu desejo
Tua face que não miro
é o abismo em que me atiro
Tua voz que não escuto
é em meu coração um luto
Tua presença que se desvanece
é uma inútil prece.



DO TERCEIRO ANDAR
( na rua Visconde de Faria )


... espio a rua
e ninguém passa...
(é só neblina, é só fumaça)
Colho
o brilho frio da lua
e me recolho.
Dentro de mim
fecho a vidraça.


IMAGEM ALGUMA


Perdido na mais ausente distância

Espelhoque não reflete imagem alguma

Alga marinha no meio do oceano

Oculto embora pressentido

Vento sem canto, mudo,

Eu estrela pálida e fria

Colho o vazio

Do nada que plantei.

Destino ou sina?

Nunca saberei...

Cansado estou

da viagem

que não viajei.


SEM MISTÉRIO


lá onde os vivos não falam
e o medo anda só
todas as sombras se igualam
a vida se desfaz em pó.
ossos ajuntados
sem memória , sem testemunho
gargantas ganham um nó
que custará a desatar.
lá onde a vida se fecha
sem mais nenhuma cerimônia
sem mistério
sem dó.


QUEBRANTO


Olho seca-telha,

seca-pimenteira,

olho gordo,

olho grande,

olho grosso,

olho mata-pinto,

olho ruim,

mau olhado,

traz feitiço ,

faz fascínio"

Benza-os Deus,

olhos não são maus

"Colhida a fruta,

a árvore apodrece

guiné dá alarme,

aguça o cheiro,

Contra ti

haja oração ,

patuá, amuleto,

talismã, escapulário,

carântula,meia -luafiga...

Isola !

Pé de pato, mangalô três vezes

"Não te receio! Tenho jesus cristinho

no coração"

Valdir Alvarenga
Poeta santista, autor de três livros: Plenilúnio, Pequeno Marginal e Autógrafo. Co-editor da revista literária Mirante além de animador cultural